Nos primeiros meses do ano, o Brasil computou índice de 41 óbitos por dia em pacientes com menos de 40 anos; em 2020, a média era de 30
“Agora somos só eu e você, filho”, escreveu o estudante de jornalismo Cayro Yuri, 24 anos, em um tuíte que viralizou na noite da última quinta-feira (4/3). Na foto que ilustra a frase, ele carrega no colo o filho, Bento, fruto do relacionamento com Luana Gurgel, 24. Sem comorbidades, a jovem perdeu a batalha contra a Covid-19 e morreu no dia 27 de fevereiro, horas após dar à luz o pequeno.
O médico Rodrigo Biondi, que atua no DF, não perdeu parente jovem para o novo coronavírus, mas cuidou de quem não conseguiu vencer a luta contra a infecção. “É triste, porque acabamos passando tanto tempo com esses pacientes. Do ponto de vista popular, sempre pensamos: ‘A pessoa tinha tanto para viver’”, disse, entre suspiros. “Há casos de sucesso, como o de um flamenguista de 32 anos que ficou em estado gravíssimo. Ele deixou a mãe e a gente desesperados, mas resistiu. Por outro lado, vi um homem de 32 anos, que veio de Manaus, não superar a doença.”
As situações vividas por Yuri e Biondi ilustram o drama pelo qual passa o país. Nos últimos dias, com leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) atingindo níveis de ocupação nunca antes vistos, o Brasil registrou sucessivos recordes de mortes e de casos. Há inúmeros relatos de pessoas mais novas vítimas da doença.
Os números mostram a realidade: segundo análise do (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, com base nos balanços dos cartórios do Brasil, nos primeiros dois meses de 2021, 2.618 brasileiros com menos de 40 anos morreram de Covid-19, média de 41 óbitos a cada 24 horas; 1.309 por mês. Para efeito de comparação, nos 10 meses de pandemia em 2020, a quantidade de falecimentos de pacientes com a mesma faixa etária chegou a 9.059 – 30 a cada dia, aumento de 36,6% na média diária.
A Prefeitura de Araraquara (SP), uma das localidades em que a variante brasileira do novo coronavírus tomou conta, vive esta realidade. Na última quinta (4/3), registrou a intubação de uma mulher de 21 anos e de um homem de 26, por causa da Covid-19. Segundo o prefeito Edinho Silva (PT-SP), em 2020 apenas uma pessoa de menos de 40 anos morreu na cidade em decorrência da doença. Só de fevereiro até agora, já foram 10 óbitos de pessoas nessa faixa etária.
No Rio Grande do Sul, a situação é semelhante. “Visitei, há pouco, dois grandes hospitais em Porto Alegre. Num deles, ao entrar na UTI, um quadro identificava os 10 pacientes que ali estavam. Na faixa de idade, apenas dois pacientes com mais de 60 anos. Todos os outros tinham entre 24 e 40 anos. Na outra unidade de saúde, o relato da equipe médica sobre pai e filho que estão na UTI intubados. O filho com 17 anos. O contágio é altíssimo, como nunca! E o vírus, com as variantes, mais agressivo”, assinalou o governador Eduardo Leite (PSDB), em postagem no Twitter.
Ainda não há dados gerais consolidados que expliquem definitivamente esse novo perfil nos óbitos e nos pacientes com a doença. Contudo, segundo especialistas e trabalhadores da área da saúde, algumas hipóteses podem esclarecer o fenômeno.
Fonte: Metropoles