UE pode barrar exportação de doses da AstraZeneca e emergentes protestam

A Europa subiu o tom contra a AstraZeneca e ameaça impedir suas exportações de vacinas contra a covid-19 enquanto a empresa não cumprir seu contrato de fornecer as doses que um acordo com Bruxelas estipulava. O governo da Alemanha apoiou a ameaça dos europeus. Mas a iniciativa abriu uma crise entre a UE e países em desenvolvimento e explicitou a guerra pelos imunizantes no mercado internacional.

Diante do gesto europeu, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, usou um discurso nesta terça-feira no Fórum Econômico Mundial para denunciar o “nacionalismo de vacinas” e alertar aos países ricos que não abandonem mais da metade do mundo.

“Precisamos que aqueles que acumularam as vacinas liberem as vacinas para que outros países possam tê-las”, disse Ramaphosa, que é o presidente ainda da União Africana. “Os países ricos do mundo adquiriram grandes doses de vacinas dos fabricantes dessas vacinas e alguns países foram além e adquiriram até quatro vezes mais do que sua população precisa.

E isso teve como objetivo acumular essas vacinas. E agora isso está sendo feito com a exclusão de outros países do mundo que mais precisam disto”, denunciou.

A AstraZeneca fechou acordos com dezenas de países pelo mundo, entre eles o Brasil. As características de suas doses – mais baratas e mais fáceis de serem transportadas – foram consideradas como essenciais aos países em desenvolvimento.

O gesto da UE soou o sinal de alerta entre os países em desenvolvimento na OMS, que querem garantias de que serão abastecidos. A ameaça também foi considerada na ONU e na agência mundial de saúde como uma ilustração de que a guerra pelas vacinas pode se transformar em uma guerra comercial e azedar as relações entre governos.

Mas, em Bruxelas, a tensão foi aberta depois que a empresa britânica indicou que não teria como cumprir seu calendário de fornecimento de 100 milhões de doses da vacina no primeiro trimestre aos países europeu.

A previsão, agora, é de que o abastecimento seja de apenas 50 milhões. A UE rapidamente qualificou a decisão da empresa de “inaceitável”, enquanto na OMS governos europeus foram acusados de “egoistas”. A crise chegou até o mais alto escalão, com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, exigindo que os contratos sejam cumpridos.

Também em Davos, que ocorre de forma virtual, Von der Leyen anunciou que a UE vai criar um “mecanismo de transparência” para saber o que está sendo feito com as vacinas por parte das empresas e voltou a cobrar o setor privado.

A UE ajudou com dinheiro no desenvolvimento da vacina. Muito foi investido. Investimos bilhões para a primeira vacina. Agora, as empresas precisam honrar seus compromissos”, disse.

Um dos argumento dos europeus é de que o bloco investiu milhões de euros no desenvolvimento da vacina e garantiu financiamento para a farmacêutica. A meta desse dinheiro era justamente garantir que houvesse uma ampliação da capacidade de produção. No total, Bruxelas argumenta que colocou 2,7 bilhões de euros no setor de vacinas.

  • Informações Uol

Deixe uma resposta